quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Carta ao Escritor*


Escritor amigo
O teu livro chegou a este lugar longe, onde vivo, a este deserto, as tuas palavras, em viagem, aguentaram ventos fortes, chuva abundante, intempéries.
Aqui, elas deixaram uma ronco no meu ouvido, deixaram um incomodo e um conforto.
Revelaste-me uma verdade nessa tua simples história, a verdade necessária para me salvar desta fome, desta sede.
Por aqui, secretamente, os políticos e os funcionários fecham bibliotecas, enchem de livros vazios as livrarias, entretêm as pessoas com outras coisas para elas não sentirem a fome e não procurarem esse alimento.
Sei que também tu tiveste que subir a uma montanha alta gelada para não te impedirem de escrever, porque são grandes as desvontades.
Tiveste que te pôr nu dentro de ti, porque só assim pude fazer dessa tua narrativa a minha realidade.
Agradeço-te desde já esse esforço, tentarei fazer por ti alguma coisa, porque estou eternamente agradecido pelo o que me deste, e não foi só um livro, foi uma vontade em sobreviver, uma fórmula secreta de me salvar, uma antídoto para um certo veneno que anda no ar.
Ainda mais te agradeço pelo momento que me deste de prazer, pois as tuas palavras fizeram eco dentro de mim, e ao lê-las estremeci.

Assinado
O Leitor



* A propósito do livro de David Toscana "O Último Leitor"

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