sexta-feira, 4 de março de 2011

PARTILHA DE EMOÇÕES



Sempre vivi com as emoções às costas.

Quando leio um livro ou vejo um filme de que gosto muito tenho de o impingir a toda a gante. É mais forte do que eu. Se quiserem, de forma poética, direi que é uma ínapelável pulsão de partilha das emoções.

Alguns dos meus amigos já me pediram várias vezes para não lhes contar os filmes. Depois vão vê-los e acham-lhes menos graça...

Mas atenção serei um narrador obsessivo mas democrático. Tanto gosto de contar como que me contem filmes ou livros. Porque quase sempre vou ver outra coisa, de outro ângulo, vou ver outro filme naquele filme, o meu filme, que não fica magoado se me contarem o que cada um viu dentro daquele que eu vou ver.

Por isso, o título deste livro agarrou-me imediatamente. Esta é das minhas! A menina é uma de cinco filhos de um mineiro que ficou sem andar, viu a mulher fugir e adora cinema.

Para a sessão de cinema semanal só há dinheiro para um bilhete. O pai faz então um concurso entre os filhos. Quem vai ao cinema tem depois de contar o filme aos outros.

A menina é a eleita como melhor contadora. E vai tornar-se numa pequena vedeta daquele acampamento onde ficará a viver da memória dos filmes, mesmo depois de a mina fechar e todos partirem.

Hernán Rivera Letelier é um dos meus autores favoritos. Ex-mineiro nas minas do salitre no deserto de Atacama, Letelier fala-nos dos pobres, dos mais pobres, da vida duríssima da gente do deserto. E apesar dessa dureza, a sua escrita é atravessada por um sopro doce, amável, nostálgico, decente, trágico por vezes.

Quando acabo de ler os seus livros fico sempre a sentir-me carregado da mais funda humanidade que as palavras podem trazer-nos.

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