terça-feira, 3 de julho de 2012

Espinosa - Vida e Obra


Aquilo por que deveremos lutar é por nos libertarmos das paixões - ou, visto que tal é absolutamente impossível, pelo menos por aprendermos a moderá-las e dominá-las - tornando-nos seres activos e autónomos. Se conseguirmos alcançar esta meta, então seremos livres, no sentido em que seja o que for que nos aconteça resultará não das nossas relações com as coisas exteriores a nós, mas na nossa própria natureza … Por conseguinte, libertar-nos-emos realmente da incómoda instabilidade emocional desta vida. O caminho para atingir este objectivo é aumentar o nosso conhecimento, a nossa reserva de ideias adequadas, e eliminar na medida do possível as nossas ideias inadequadas que derivam não apenas da natureza do espírito, mas do facto  de serem uma expressão de como o nosso corpo é afectado pelos outros corpos. Por outras palavras, precisamos de nos libertar da confiança nos sentidos e na imaginação, pois a vida dos sentidos e das imagens é uma vida afectada e conduzida pelos objectos que nos rodeiam, e confiar apenas na medida do possível nas nossas faculdades racionais. 


Uma biografia soberba dum dos mais fecundos e originais fundadores da modernidade. Um retrato magnífico do homem e das condições sociais, políticas e históricas que, nos Países Baixos do Norte, deram origem ao pensamento dum dos mais expressivos defensores da primazia da razão sobre todas as formas de agir e de julgar. 

O autor, Steven Nadler, apresenta-nos com vivas cores a génese da comunidade de judeus portugueses na vibrante e aberta Amsterdão do início do século XVII, e descreve a evolução intelectual do jovem e brilhante Baruch Spinosa (1632 - 1676), filho de judeus portugueses, desde a sua iniciação na tradição escolástica hebraica até a sua excomunhão em 1656, pela apostasia de declarar que Moisés não era o autor do Pentateuco e que a Tora era um documento humano, cujo verdadeiro entendimento exigia uma leitura histórica e antropológica. 

O autor apresenta-nos também, com grande clareza e elegância, a evolução intelectual do jovem Baruch, agora Benedictus, nos estudos clássicos e na radical filosofia de Descartes (1596-1650). O aprofundamento dos seus estudos na senda da dúvida metódica de raiz cartesiana permitiu-lhe desenvolver e conceber o programa de apresentar a filosofia como um conjunto de proposições demonstráveis segundo o método geométrico inspirado no "Elementos" de Euclides (300 AC), ambição plenamente realizada nos vários livros da sua Ética, publicada postumamente.  

Modesto e reservado, o filósofo conduziu a sua vida de forma exemplar e frugal, desfrutando a felicidade que segundo as suas convicções era o bem maior que se poderia extrair duma vida determinada por actos ditados pela razão e pelo conhecimento. 

A sua obra compreende as contribuições fundamentais: Tractatus de Intellectus Emendatione (Tratado sobre a melhoria do entendimento, 1662), onde defende que a leitura secular das escrituras é a única compatível com a razão e a verdade histórica;  Principia philosophiae cartesianae (Princípios da Filosofia Cartesiana, 1663); Tractatus Theologico-Politicus (Tratado Teológico- Político, 1670), publicado anonimamente, onde estão expressas as ideias fundamentais acerca da separação da política e da teologia e as bases do que hoje entendemos por democracia; Tractatus Politicus (1675/76); e postumamente: Compendium grammatices linguae hebraeae (Compêndio de gramática hebraica, 1677); Ethica Ordine Geometrico Demonstrata (Ética, 1677). 


Orfeu B.






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