sexta-feira, 6 de julho de 2012

Não alcançamos a liberdade, buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim mas uma consequência" Tolstoi


Eugénio Lisboa
Vário, Intrépido e Fecundo - uma Homenagem
Opera Omnia

“Apareceu este ano em Portalegre, como oficial miliciano, o aspirante Eugénio Lisboa, que é um dos rapazes mais inteligentes que em toda a minha vida tenho conhecido” Graças a ele tenho tido, no café Central, conversas como julgo nunca tivera em Portalegre”
A anotação de 1954 no “Diário” de José Régio é referida por João Francisco Marques num livro que reúne testemunhos sobre a pessoa e a obra de Eugénio Lisboa, publicado pela editora Opera Omnia com organização de Otília Martins e Onésimo Teotónio de Almeida. Diversos, escritos uns mais para o homenageado, outros mais para o leitor, em total liberdade de quem os escreveu, por conseguinte desiguais.

Trago aqui este livro como exemplo da necessária atenção, que muitas vezes não damos, à pessoa atrás da obra, a quem não é alinhado mas pensa e tem um discurso próprio. Falta-nos em muitos casos este registo, o de testemunhos de convivência. O valor de um pensador é para lá da obra o rastro de influência nos outros e nas suas obras. 

Das obras será o tempo o exator. Mas a pessoa precisa de ser ouvida no tempo certo de partilhar de viva voz a sua insubstituível experiência. Sobretudo, sendo uma pessoa como Eugénio Lisboa, com uma vida de actividades plurais, dividida por vários espaços geográficos e mentalidades, desde Moçambique onde nasceu e viveu 38 anos, a Inglaterra, Lisboa, África do Sul, Suécia e agora Portugal. Há uma ideia de Portugal só possível em quem vê o país na distância, como acontece, também, por exemplo com Rentes de Carvalho ou Eduardo Lourenço. 

O  livro termina com uma entrevista que é uma breve, assertiva mostra da pertinência do pensamento e opinião de Eugénio Lisboa: 
“(…)Somos um país pobre, mas somos sobretudo um país em que os poderes políticos não gostam de gastar dinheiro com a cultura nem com os seus agentes que são, por regra, incómodos.(…)” Eugénio Lisboa.
Sem dúvida, infelizmente, actual.

Estes setenta e três testemunhos, incluindo os organizadores da obra, de muitas figuras do nosso quadro literário e intelectual, são também uma espécie de retratos dos próprios, pois o reflexo de cada um nas palavras que dirigem ao homenageado revela-nos, também, a forma de cada um estar e ver o mundo.

“Desconfio das torres de marfim, e Eugénio Lisboa também. As suas conferências, os seus ensaios, as suas críticas têm sempre algo de muito especial e próprio. Cada citação, cada referência corresponde à ênfase necessária e adequada de um sentido crítico. E se gosto de ouvir a cadência das citações, a verdade é que as referências de Eugénio encantam-me especialmente, porque sei que trazem consigo o lastro seguro de todo o contexto em que nascem e vivem. (…) através de Eugénio Lisboa sabemos com o que contamos. Sabemos que é um leitor criterioso (ensinando-nos a ler), que nos dá a sua perspectiva exigindo que ao lermos sejamos fieis a um sentido crítico pessoal e próprio. Percebe-se pois porque digo que não há dois Eugénios, escritor e engenheiro, há uma personalidade coerente e rigorosa, em que o espirito geométrico e o espirito de fineza se completam, em que o engenho e a cultura formam um só carácter.” 

Uma citação do texto escrito pelo Dr. Guilherme d’Oliveira Martins que reflecte bem o sentimento de quem lê, com gosto, o ensaísta, o crítico,  Eugénio Lisboa.

Sílvia Alves





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