domingo, 26 de agosto de 2012

Che cos'è la poesia?


"A partir de agora, chamarás poema a uma certa paixão da marca singular, a assinatura que repete a sua dispersão, de cada vez além do do logos, ahumana, escassamente doméstica, nem reapropriável na família do sujeito: um animal convertido, enrolado em bola, voltado para o outro e para si, uma coisa em suma, e modesta, discreta, próxima da terra, a humildade que sobrenomeias, assim te transportando para o nome além do nome, um ouriço catacrético, todas as flechas eriçadas, quando este cego sem idade ouve mas não vê chegar a morte."     

Jacques Derrida

Uma breve, porém sugestiva, reflexão sobre a poesia pela pena do influente pensador Jacques Derrida (1930-2004), o filósofo da "desconstrução" e criador de neologismos como "differance" (diferencia) que denota a impossibilidade da análise sem temporalização que não seja sincrónica e diacrónica.

De facto, em umas escassas páginas, o pensador que introduziu na filosofia a discussão de Goedel sobre a impossibilidade de se demonstrar a veracidade ou falsidade de todos os teoremas no contexto dum sistema matemático fechado, sintetiza a leitura da poesia "em duas palavras":

"1. A economia da memória: um poema deve ser breve, elíptico por vocação, qualquer que seja a sua extensão objectiva ou aparente …

2. O coração. Não o coração no meio das frases que circulam sem correr riscos pelos cruzamentos e se deixam traduzir em todas as línguas. Não apenas o coração dos arquivos cardiográficos, objecto de saberes e de técnicas, de filosofias, e de discursos bio-ético-jurídicos. Talvez sequer o coração das Escrituras ou de Pascal, provavelmente, nem mesmo, o que é menos certo, aquele que Heidegger lhes confere. Não, uma história de "coração" poeticamente envolta no idioma "aprender de cor", o da minha língua ("apprendre par coeur") ou uma outra, a inglesa (to learn by heart) … - um trajecto único de múltiplas vias."    

Certamente, uma lição a reter.
    

Orfeu B.

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