quinta-feira, 7 de agosto de 2014

SOMBRA NO VENTRE



“… as noites só faziam sentido trincando nêsperas
e bordando palavras que dessem sombra no ventre”

Uma entre as boas poetas dos últimos anos, o que é raro e não é pouco, porque a poesia portuguesa não tem andado nos seus melhores tempos.

Este livro dedica-o a autora ao Miguel, “...que durante nove meses carregou comigo um filho. E durante outros tantos, este livro.”

É assim fácil de entender que este livro é um registo poético do tempo de gravidez.

Sem bonitinhos, adornos, requebros que o tema poderia sugerir, esta poesia é espessa, intensa, cuidadosamente elaborada numa vivência deslumbrada do corpo e da partilha do corpo com o filho que se aproxima e da sua celebração no altar do amor.

“MARSUPIAL” resulta do casamento notável entre a emoção vivida no corpo e a construção de um outro corpo feito de palavras nascendo inquietas das águas e da luz.

“agora a mulher estava no plural
a mulher era potável
a mulher escrevia o missal do seu corpo

um dia o anjo disse – vai à fábula –

então a mulher escolheu escrupulosamente o seu pé esquerdo
e foi.”

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