domingo, 10 de julho de 2016

VAMOS COMPRAR UM POETA



Uma pequena delícia. Uma brincadeira muito séria.

Retrato de uma sociedade reduzida aos números e aos processos mentais de um economia incapaz de integrar o valor do sonho, da metáfora, da poesia.

Uma família compra um poeta como quem compra um cão e põe-no a viver debaixo da escada.

Este texto pertence à família de outros como , por exemplo, “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury, ou, de certa forma, “As aventuras de João sem medo” de José Gomes Ferreira.

São textos que se constroem contra ditaduras políticas ou económicas, que excluem a cultura do seu dia a dia e que, resolvendo aparentemente todos os problemas dos homens, se tornam secas e poucas e, por isso mesmo, incapazes de estrangular o que há de profundamente humano dentro de nós e que, mais tarde ou mais cedo, acaba por vir à tona na literatura, na arte, na poesia, coisas “inúteis” que resistem e se tornam em atitudes que o(s) poder(es) consideram perigosamente subversivas.

A literatura em Afonso Cruz é uma festa. E, sendo capaz de tratar assuntos de grande espessura e profundidade, fá-lo sempre de forma clara, instilando no leitor capacidade desconstruir as certezas manhosas do mundo em que vivemos, mas fazendo disso uma promessa de felicidade.

Este “Vamos comprar um poeta” torna a leitura num divertimento muito muito sério. Devia ser texto obrigatório no ensino.

Sem comentários: